Novo exercício feito no Workshop "Dar a volta ao Papel". Desta feita, aprendemos sobre a descrição indireta versus descrição direta. O grupo inventou uma personagem (O Senhor Tomé, padeiro velhote, careca e gorducho, que vive nas Antas, gosta de Mozart e é benfiquista ferrenho) e procedeu a tentar transmitir as características do senhor o mais indiretamente possível.
Este foi dos primeiros exercícios feitos, logo a loucura ainda não tinha tomado controlo (isso começou na SEGUNDA parte do exercício...).
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O Sr. Tomé acordara com o coro do "Dies Irae" na cabeça. As vozes cantavam palavras sem nexo, mas que soavam bem, soavam. Havia piores maneiras de acordar, decerto.
Assobiara a música todo o caminho para a labuta -- o mundo todo ainda estava enrolado confortavelmente em cobertorzinhos de lã e sonhos. Doíam-lhe os ossos no frio da manhã, mas, pouco depois, o fogo do forno afugentara os tremores. À hora de abrir, já tinha mudado para a "Lacrimosa".
- Senhor Tomé! - A filha da D. Manuela ocupava a entrada - A fornada da manhã já saiu?
Por instinto, esticou-se, metendo a barriga para dentro: - Bom dia, Laurinha. Já saiu, sim. É uma dúzia?"
- Sim, senhor. Viu o jogo ontem?
Morreu-lhe o bom humor e o assobio: - Foi uma roubalheira, menina!
- Diz isso porque os vermelhos perderam. - Laurinha atrevida, risonha.