A história do "Corrector de Sonhos" apareceu sem querer durante um exercício de escrita exponencial: o objetivo deste exercício era fácil: começar numa frase de 3 palavras apenas -- e depois passar para 6, 12, 24, 48 -- sempre numa frase só (ou seja, nada de comer pontos finais e trocá-los por vírgulas), com a condição que TODAS as palavras que fossem utilizadas nas frases anteriores voltassem a ser utilizadas.
A primeira frase foi, literalmente, a primeira estupidez que me veio à mente (e no exercício seguinte viria transformar-se no estranho conto do Corrector da Bolsa que vende sonhos).
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Ontem, vendia sonhos.
Ontem, vendia sonhos e comprava esperanças.
Ontem, caminhava pela Rua da Solidão enquanto vendia sonhos e comprava esperanças.
Ontem, criatura insatisfeita, caminhava só pela Rua da Solidão quando encontrei um velho que, curvado, cantava sem voz, enquanto vendia sonhos e comprava esperanças.
Ontem, sentindo-me uma criatura insatisfeita quando caminhava só pela Rua da Solidão, encontrei um velho que, curvado sobre o dia que se alongava, cantava, sem voz, uma canção de embalar para os filhos que nunca tinha tido, enquanto vendia sonhos de infância e comprava esperanças de um doce futuro.