Postby Lady Entropy » 06 Oct 2009 12:52
Episódio 1 - The Unicorn Clan Coup
Parte III - Filha do Momento
Nagato olhou em volta rapidamente, tentando avaliar a situação, tarefa não muito fácil quando se está no meio de uma batalha, onde uma distração de um segundo é convite suficiente para a desgraça acontecer: ambos os exércitos começavam a ressentir-se do longo tempo a que já durava a batalha, o solo estava escorregadio do sangue e do suor dos homens -- enquanto sobre eles todos, o sol tisnava a prumo, implacável.
O calor era insuportável e, por si só, era responsável por multiplas baixas de ambos os lados. Por um instante apenas, a Mirumoto olhou o céu: se ao menos chovesse... o Outono já ia avançado e nem sinais de nuvens, nem uma gota de chuva. A água seria sem dúvida uma benção celestial - para o seu lado pelo menos, pois negaria aos Unicórnio a terrível vantagem que lhes era conferida pelas suas armas de pólvora, que não funcionariam se o pó negro estivesse húmido.
De súbito, ouviu o som do passo pesado de um cavalo atrás de si: voltou-se muito lentamente, e apenas a alguns metros estava uma Battlemaiden, que havia sem dúvida conseguido penetrar as defesas dos flancos.
Nagato havia sido criada para a glória da batalha. Sentiu o peso reconfortante das suas armas, uma lâmina para cada mão - esta era a dança do dragão, tão graciosa como letal.
Olhou a sua inimiga, uma ultima vez, e com coragem no coração e o Vazio na mente, enfrentou a carga, esperando pelo instante.
***
Há quantos anos ele não provava o viver? O gosto de ser espirito feito carne, de ser mortal, de conhecer o mundo através de olhos?
<!--coloro:blue--><!--/coloro-->... Eterno...<!--colorc--><!--/colorc-->
Que era para ele a eternidade? Que era para ele um instante?
<!--coloro:blue--><!--/coloro-->... Tudo e Nada...<!--colorc--><!--/colorc-->
Ele era Ryujin. Ele era eterno e constantemente renascido. Ele era imortal e no seu corpo nasciam e morriam estrelas.
Ele era um Rei Dragão, e a Àgua era a sua amante e a sua súbdita.
Durante séculos, milénios, segundos, instantes, eras, vivera no seu palácio sob o manto aquoso do mar. Mas o Rei Dragão apesar de eterno, cansava-se.
Queria provar a carne.
Queria provar o tempo.
Queria provar a mortalidade.
Por isso, e, cada vez mais frequentemente, aproveitava uma nuvem de passagem, ascendia a ela, e ia dançar nas gotas de chuva que caiam sobre a terra fértil, observando o mundo debaixo de si, do qual sabia tão pouco. Quiçá já houvera sabido mais... mas fora à tanto tempo... tudo estava esquecido agora.
Um dia, vira-a, uma mulher humana banhando-se nas suas águas. A curiosidade havia-o espicaçado: sentia ainda nela sangue de dragões... mas diluido pelas gerações de sangue humano sobre sangue humano. Fascinado pelo sentimento da sua própria curiosidade, havia-a seguido dias e semanas e instantes. Mas a época das chuvas havia passado, e as nuvens já não vinham para o carregar até ela.
<!--coloro:blue--><!--/coloro-->... Tinha de chegar até ela...<!--colorc--><!--/colorc-->
Há quantos anos ele não provava o viver? O gosto de ser espirito feito carne, de ser mortal, de conhecer o mundo através de olhos?
<!--coloro:blue--><!--/coloro-->... Há demasiados anos...<!--colorc--><!--/colorc-->
E assim o Rei Dragão tomou uma forma de carne e mortalidade. Como serpente rastejou, seguindo o odor do sangue que corria nas veias da sua humana. Só queria um instante, uma eternidade, uma vida com ela.
Ela iria carregar a sua semente e o reeniciar do Grande Ciclo. Ela iria dar à luz o próximo Rei Dragão... Assim, Ryujin poderia regressar ao Vazio. O mundo já nada continha que o interessasse, ele já havia vivido muito, pensado todos os pensamentos e sonhado todos os sonhos que a sua forma de espirito poderia conter. Agora, queria apenas dormir. Dormir um sono de instantes. E cada instante haveria de conter todas as eras da humanidade.
Foi um instante até chegar até ela, e deixar que os afiados dentes de serpente desta sua forma mortal se enterrassem na carne macia humana. A sua semente tinha entrado nela... agora, era uma questão de esperar.
<!--coloro:blue--><!--/coloro-->... Esperar uma eternidade. Esperar um instante...<!--colorc--><!--/colorc-->
Ryujin voltara a dançar outra vez na chuva quando o seu espírito se fez vida. Da sua semente havia nascido carne. A família da sua humana ficara surpreendida com a súbita gravidez, que há já tanto esperavam mas que até ali não tinha sido possível, e que acontecera tão subitamente.
Num instante.
Mas eram humanos, e eram felizes. E amaram aquele pedaço de espírito feito carne, ela, a filha de Ryujin, ela que haveria de ser criada para a glória da batalha; ela que haveria de estar num campo de batalha desejando a chuva, sem saber que ao fazê-lo, desejava o seu verdadeiro pai; ela que não saberia que era mais que humana até ao instante certo.
A eternidade não era mais que um instante.
***
Durou apenas um instante.
A força do impacto fizera Nagato ser projectada pelo ar, o seu corpo gritando de dor, ossos quebrando, sangue escapando-se, a vida partindo veloz.
Partindo num instante apenas.
Estava a morrer. Havia substimado a sua inimiga e pagara caro por isso. A dor era quase insuportável, mas mais insuportável ainda era o terrível frio que a estava a invadir. Era como se o tempo passasse cada vez mais devagar.
Como se cada instante durasse uma eternidade.
Uma voz soou ao seu ouvido, e nela estava contida toda a eternidade, e todos os instantes entre cada segundo:
<!--coloro:blue--><!--/coloro-->"A tua hora ainda não chegou... Não podes morrer porque ainda não viveste... Lembra-te de quem és -- e chama por mim quando te lembrares..."<!--colorc--><!--/colorc-->
A vida regressou, e com ela a dor... e com ela, a consciência -- não sabia como, não sabia porquê, mas sabia apenas... que Yorimaru havia caído tentando defendê-la -- que Moro, tombada mais adiante, estava presa entre a vida e a morte...
E que a mesma lâmina que a havia atingido a ela... os tinha feito tombar também -- e a morte que ela trazia apenas tinha sido detida pelo grande general Hida... cuja vida Moro havia comprado com a sua.
Tudo durara apenas um instante.
Um instante.
Uma eternidade.
***
"I believe in pink. I believe that laughing is the best calorie burner. I believe in kissing, kissing a lot. I believe in being strong when everything seems to be going wrong. I believe that happy girls are the prettiest girls. I believe that tomorrow is another day and I believe in miracles."
— Audrey Hepburn