Blocos maciços erguem-se nas ruas, rodeando-nos da praga moderna. Movimento-me, soerguido, cambaleante, porque me sinto infimamente pequeno em toda esta imensa magnitude. Erecções. O homem branco chegou e criou. Vini, vidi, vici, one might say.
Lembro-me de quando era moço pequeno e ia ao supermercado. Era atendido por uma pessoa, uma pessoa real. Hoje, uma voz (?) mecânica instrui-me a passar o código de barras em frente ao leitor. Obedeço, receoso de não me integrar. E até coloco as moedas antes de inserir as notas. Maravilhoso mundo, que empregas máquinas em lugar de homens.
Vejo rostos siderados com o progresso, os seus olhos espelhos do vazio que os preenche por dentro. Leio frases defensoras do ideal futurista que perseguem, as suas almas há muito rendidas ao poder da máquina.
No futuro, no futuro seremos todos escravos, não das máquinas, mas de quem as maneja. Mas seremos escravos felizes, porque fundamentalmente a ignorância é felicidade. E é isso que no fundo todos somos. Ignorantes e felizes. Talvez o futuro seja o presente.
Do alto da minha varanda, no 56º andar, ainda tenho que fazer um esforço para olhar para os prédios que chegam mais alto do que o meu. O seu poder, omnipresente e omnipotente, intimida-me e há alturas em que receio olhar para cima. Um corpo que aterre em cima de outro corpo, desta altura, significa morte instantânea para ambos os corpos. Talvez isso possa significar que apesar da minha insignificância perante o massivo poder de tudo, eu ainda detenho algum controlo sobre a minha vida e poder sobre a vida dos outros. Talvez nesse momento que os nossos corpos chocam a uma velocidade de 137 km/h um contra o outro e depois contra o chão, nesse momento em que o meu sangue e o sangue da minha vitima se unem e formam um só, indistinto e social, talvez nesse momento eu seja Deus reincarnado para ambos, ditando o dia, hora e local da nossa morte. Talvez nesse momento o meu corpo seja insignificante e vazio mas as minhas decisões não. Veremos.
Enquanto caio penso como, e apesar de tudo, é bem mais fácil olhar para baixo e encarar o fim do que levantar a cabeça e combater o poder