O romance é todo ele narrado na primeira pessoa e relata a véspera do início da época de caça na localidade da Gafeira, no longínquo ano de 1966. Este narrador vai, ao longo deste dia rever o último ano na pacata localidade. O desaparecimento do último dos Palma Bravo, a morte da sua esposa e do criado manco e tudo o que isso provocou na vida da aldeia.
A viagem que somos levados a efectuar é essencialmente uma viagem ao Portugal das aldeias na segunda metade do século XX e é aí mesmo que JCP nos surpreende. Ele é mais um dos habitantes, um caçador que retorna para a época da caça, e coloca-nos bem no centro da aldeia. Não só por toda a narração ser efectuada a partir do centro da vila, mas essencialmente porque ele se move, ao longo da narrativa, entre a aldeia e o principal foco de conversa, e principal atracção, a Lagoa. A linguagem que para isso se usa é a linguagem simples dos homens da aldeia. Uma linguagem que não deixa espaço para segundas interpretações, de homens rudes e que não foram contaminados com a boa educação. Isso faz com que cada personagem seja único, quer o Regedor, o típico indíviduo a quem a providência achou por bem colocar num posto em que se sente importante, os párocos e as suas disparidades etárias, o senhor Engenheiro, com o seu largo acesso à cultura e vida da alta sociedade e os velhos-de-um-só-dente que por aí proliferam, fonte infindável de notícias, todas elas alteradas a preceito de uma imaginação fértil.
Um ano numa noite, esse é o resumo de "O Delfim". A forma como JCP o faz é desnorteante. Pouco mais de duas centenas de páginas que passaram a voar, sempre à procura do que se passou a seguir, apresentadas da forma simples com que se lê um relatório de polícia, com factos nús e crús apresentados, com lampejos de vox populi (algum latinista que corrija isto
