Um Quarto, uma vela e a lua…
Era um quarto quente e luminoso, apesar da escuridão que cobria o ar. A luz penetrante das estrelas banhava os azulejos brancos do chão, criando uma atmosfera sonhadora, quase irreal. Nas prateleiras das estantes amontoavam-se livros de vários tamanhos e feitios. Capas vermelhas, azuis, cheias de desenhos e cores davam um colorido infantil à divisão, que dispensava quaisquer outros adornos. Na barra da cama permanecia aceso um candeeiro pequeno, de luz fraca, ao lado do qual repousava um livro solitário e uma caneca de café, vestígios de hábitos invulgares.
No parapeito da janela permanecia uma presença. O olhar penetrante inclinava-se para o céu, onde as estrelas reluziam em tons prateados. Mas esse olhar fixava-se apenas na grande esfera amarelada que enchia todo o céu com a sua presença. Era uma lua grande e cintilante, no seu absoluto esplendor. Uma presença constante e sonhadora… um caminho para o mundo dos sonhos, onde nos perdemos por entre caminhos e atalhos, onde o pó se transforma em pão, as pedras ganham vida e as crianças tomam a forma de heróis… Um mundo onde não há lugar para a monotonia, o cansaço ou o conformismo, algo por vezes tão irreal, a que já poucos dão importância, mas no qual muitos habitam.
No parapeito da janela permanecia uma vela acesa. A sua chama, de tom vermelho amarelado brilhava intensamente, como que iluminando um caminho tenebroso. Um sinal de esperança, constante.
Ao longe, alguém sonhava com esse quarto e essa mesma vela. Mas, tudo se evaporava e lentamente, como nevoeiro a dissolver-se, dando lugar a um quarto escuro e vazio. Não havia livros nas prateleiras das estantes, que se achavam vazias. A cama encontrava-se despida de objectos e no parapeito da janela, também ele desprovido de qualquer objecto, avistavam-se umas gotas pequenas de cera. No entanto, no céu, avistava-se a mesma lua grande e amarela que parecia brilhar menos, por entre a escuridão triste do local.
Ao longe, alguém acordava e a meio da noite caminhava para a janela do quarto, para contemplar uma lua magnífica que se avistava no céu, e por entre as árvores escurecidas e pouco perceptíveis, pensava ver uma luz extinguir-se lentamente.